quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Poluição cano abaixo

Coleta de óleo de cozinha alcança 1,3 milhão de litros por mês, mas isso representa apenas 5% do que é descartado


Simone Costa
Revista Veja São Paulo


A cada seis meses, a administradora de empresas aposentada Ana Maria Cantarella, síndica de um condomínio residencial na Vila Mariana, precisava mandar desentupir os canos de sua rede de esgoto. Essa situação mudou há um ano, quando ela implantou a coleta de óleo de cozinha. “Todo mês, recolhemos cerca de 20 litros” , conta Ana Maria. “Parece pouco, mas já deu resultado.” Quando vai pelo ralo, a gordura causa estragos.

“Ela funciona como uma cola entre outros dejetos, formando pedras que obstruem a rede”, explica o engenheiro químico Marcelo Morgado, assessor de Meio Ambiente da Sabesp. Apenas 1 litro desse resíduo pode contaminar 25 000 litros de água. Como o condomínio de Ana Maria, cerca de 4 000 prédios recolhem óleo usado atualmente na cidade. Há três anos, eram 400. Apesar do crescimento, esse número ainda é pequeno: estima-se que 1,3 milhão de litros de óleo sejam coletados todo mês na Grande São Paulo, o que corresponde a apenas 5% do total descartado.

Uma das pioneiras na coleta de óleo em São Paulo é a Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro de Cerqueira César (Samorcc). Em 2006, a presidente Célia Marcondes procurou a ONG Trevo, que recolhia o resíduo em estabelecimentos comerciais desde 1992, para implantar a coleta em sua região. “Contamos com o apoio da Sabesp e da prefeitura, mas o poder público deveria ser mais atuante, fazendo campanhas de conscientização”, afirma Célia, que neste ano criou a ONG Ecóleo.

De acordo com Rose Marie Inojosa, diretora da Umapaz, instituição de educação ambiental ligada à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, é preciso agora mostrar à indústria a importância do óleo de cozinha. “ Esse resíduo tem valor comercial. Serve, por exemplo, para a fabricação de sabão, de massa de vidraceiro e de biodiesel”.

Coordenador do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel) da USP de Ribeirão Preto, o professor Miguel Dabdoub considera que o melhor destino para o resíduo é sua transformação em biodiesel, já que a demanda é crescente. Por lei, o diesel comercializado nos postos deve ter a adição de um porcentual de biodiesel, que a partir de 2010 será de 5%. “O maior problema é que a indústria não está preparada para trabalhar com o material usado, que requer mais conhecimento técnico”, diz.

Atualmente, o Ladetel recolhe cerca de 200 000 litros de óleo por mês, que são transformados em biodiesel destinado à frota do laboratório. A equipe de Dabdoub conseguiu desenvolver um método que transforma 1 litro de óleo residual em 1 litro de biodiesel. Na indústria, a eficiência de transformação é de cerca de 85%. Isso significa que 1 litro de óleo descartado resulta em 850 mililitros de biodiesel.

Ainda assim, se a coleta é feita em larga escala, torna-se viável. ' E engana-se quem pensa que é suficiente descartar o óleo no lixo comum, em garrafas plásticas, no lugar de jogá-lo cano abaixo. Em caso de vazamento, pode haver a contaminação do solo e do lençol freático. Uma boa notícia: em julho, o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan) lançou uma campanha para que as padarias da cidade deixassem à disposição dos clientes um contêiner para o descarte de óleo. Até agora, 82 desses estabelecimentos aderiram.

ONDE DESCARTAR
Quem mora em casa deve procurar o ecoponto - local para despejo gratuito de dejetos - mais próximo.
Para condomínios, a ONG Trevo vende por 30 reais um recipiente de 50 litros e faz a coleta assim que ela fica cheia.


Fonte:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/poluicao-cano-abaixo-511102.shtml

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